domingo, 15 de abril de 2012

Quando crianças viram adolescentes

Por Adair Lara

Acabo de perceber que, enquanto crianças representam cães - leais e afetuosos -, adolescentes são gatos. É fácil ser dono de um cachorro. Você o alimenta, treina-o e manda nele. O cachorro apóia a cabeça em seu joelho e fica olhando como se você fosse um quadro de Rembrandt. Corre com entusiasmo quando chamado.
Por volta dos 13 anos, seu adorável cãozinho vira um grande gato velho. Quando chamado para entrar, ele parece surpreso, como se perguntasse quem morreu e nomeou você imperador. Em vez de acompanhar seus passos, ele desaparece. Você só o verá novamente quando ele estiver com fome. Nesse momento, interromperá a corrida através da cozinha durante tempo suficiente para farejar o que você está oferecendo. Quando estende a mão para acariciar-lhe a cabeça, naquele antigo gesto afetuoso, ele se afasta com um tranco e oferece um olhar gelado, como se estivesse tentando lembrar onde já o viu antes.
Você, sem perceber que o cachorro agora é um gato, pensa que algo deve estar desesperadamente errado com ele. Parece tão anti-social, tão distante, talvez deprimido. Recusa-se a comparecer às reuniões familiares.
Como foi você quem o criou, ensinou-o a buscar o graveto, ficar parado e sentar-se ao ouvir o comando, supõe que fez algo errado. Afogado em culpa e medo, redobra esforços para fazer seu bichinho se comportar.
Só que agora você está lidando com um gato e, portanto, tudo o que funcionava antes produz hoje o resultado oposto. Chame-o, e ele fugirá. Diga-lhe que fique sentado, e ele pulará para o balcão. Quanto mais se aproximar dele, torcendo as mãos, mais ele se afastará.
 
Em vez de continuar a agir como dono de um cachorro, você precisa apredner a se comportar como dono de um gato. Ponha o prato de comida próximo à porta e deixe que ele volte para você. Mas não se esqueça de que um gato também precisa de ajuda e afeição. Sente-se imóvel e ele virá, procurando o colo aquecido e confortável do qual não se esqueceu completamente. Esteja lá para abrir a porta.
Algum dia, seu filho crescido entrará na cozinha e lhe dará um beijão. Dirá: "Você ficou em pé o dia inteiro! Deixe-me lavar estes pratos." Você perceberá, então, que seu gato voltou a ser um cãozinho.
Reproduzido da Revista Reader's Digest Seleções Agosto de 1998
San Francisco Chronicle (28 de março de 1996)
Copyright 1996, San Francisco Chronicle, 901 Mission St., San Francisco, California. 94103 

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