domingo, 7 de outubro de 2012

REAMAR É POSSÍVEL!?


Eu sei, você deve estar se perguntando: que verbo é esse?!?!
Reamarar não existe no dicionário, mas me peguei com esta dúvida... por quê?
Existem verbos como recomeçar, reconquistar, reaprender, recriar, reconstruir... Tantas ações podem ser refeitas, no entanto, algo aconteceu com a chance de amar um mesmo alguém novamente. Tudo bem, podemos falar desta possibilidade usando outras palavras, mas por que não ser direto e objetivo e simplesmente propor o reamor?
Talvez a inexistência deste verbo - indicando a impossibilidade desta ação - queira apenas reforçar o quanto é difícil reacender um amor que se apagou. Entretanto, gostaria de insistir na crença de que, por mais difÌcil que seja, é possÌvel!
Talvez não em todos os casos, mas em muitos. Talvez não sem antes inumeráveis reconhecimentos serem feitos, muitos perdões serem dados, muitos erros serem admitidos. Enfim, talvez realmente não seja possível reamar uma pessoa, levando-se em conta o fato de que já amamos numa outra época e, por quaisquer motivos, tenhamos deixado de amá-la. Porém, talvez seja.
Então, penso que ao menos deve nos ser dada esta chance, esta opção, a de reamar. Reamar para que uma relação seja resgatada depois de um tempo que foi preciso para reavaliar todas os desastres cometidos... reamar para reconsiderar a oportunidade de ser feliz.
Muitas pessoas, especialmente homens - acreditem! - tem-me escrito para questionar a vulnerabilidade das relações, a fragilidade do amor, a falta de profundidade nas escolhas. … verdade, isso tudo existe mesmo, mas eu iria além. Não é só isso o que existe. Diria que também existem muitas relações verdadeiras, amores sinceros, escolhas convictas e que, ainda assim, vão murchando, perdendo o brilho, a vontade, a intenção de sobreviver.
E digo isso porque acredito que amor é feito para se cuidar, como plantinha que precisa ser regada e alimentada para florescer. Acredito que amor largado é fadado ao esquecimento. E amor esquecido  está condenado a morte.
Portanto, não me arrisco a apostar no reamor sem que haja, sobretudo, um desejo imenso de ressuscitá-lo, de reerguê-lo; sem que haja muita disponibilidade para falar e ouvir, para a compreensão e o acolhimento, para que sejam reconstruídas pontes e mais pontes que nos levem de volta ao caminho perdido.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ESCOLA E EDUCAÇÃO CRISTÃ

Frei Beto – O Estado de São Paulo (10 de Setembro 1997).
Interessados na pastoral educacional, reuniram-se em São Paulo, em 30 de agosto, professores de dez colégios, os preferidos das elites paulistana e campineira.  São escolas que insistem em perder o pudor de se apresentar como cristãs. Muitas têm origem em congregações religiosas. No passado, padres e freiras cederam seu lugar a leigos, até mesmo no ensino religioso. E essa disciplina incluía educação moral e cívica, ética, etc…
É um contra-senso a escola católica não evangelizar alunos, professores e funcionários. Melhor depir-se de sua confecionalidade e assumir-se como mera empresa lucrativa. Os colégios que se reuniram em agosto não estão interessados numa catequese quantitative, do tipo encher bancos de igreja, nem em aulas de religião moralistas e doutrinárias, como havia no passado. Querem incutir em seus alunos os valores evangelisticos da promoção da vida, da solidariedade, da justiça, da partilha, do poder como serviço, etc.
Assim, a pastoral educacional inova nos métodos de evangelização e nos compromissos decorrentes da adesão a Jesus Cristo. Nas aulas de ensino Religioso, os alunos entram em contato com outras denominações religiosas, cristãs e não cristãs, incluindo tradições afro-brasileiras, que são parte de nossas raízes nacionais; participam de manhãs de formação e de retiros espirituais nos fins de semana. A formação do corpo docente é aprimorada com cursosde teologia pastoral e retiros. Investe-se também na atualização religiosa dos pais e na preparação para a crisma dos alunos.
A pastoral social abre uma variado leque de opções. Uma das escolas mobiliza alunos em trabalhos com cerca de 120 crianças de rua. Elas são alfabetizadas pelos estudantes e fazem cursos profissionalizantes (eletricistas, culinária, manicure, etc), ministrados por pais e professores. Em vistas a favelas, os alunos promovem recreação de crianças, teatro, oficina de trabalhos manuais, etc…
Para sensibilizar os jovens com os valores evangélicos ajudando-os a perder o ranço elitista, há escolas que mantém centros sociais em favelas, promovem cursos de artesanatos em cortiços, visitas à APAE e estágios dos alunos em assentamentos de sem-terra. Uma das escolas promoveu a viagem de formatura do 3.o colegial ao vale do Jequitinhonha, com a adesão voluntária de 60 alunos, que, durante um mês, se dedicaram a serviceo sociais naquela região paupérrima de Minas.
As gincanas têm caráter educativo, pois servem para coleta de roupas e alimentos para os pobres. Temas como sexualidade e drogas são debatidos abertamente. A campanha da fraternidade, da CNBB, entra na sala de aula e palestras atraem os alunos. Há um colégio que inclui em sua grade curricular o tema dos direitos humanos. Grêmios estudantis, como espaço de educação política, são reativados.
Nos tempos litúrgicos fortes, como semana Santa e Natal, certas escolas mobilizam a comunidade escolar, de modo a aprofundar o significado da Pascoa e trocar Papai Noel pelo menino Jesus. Procura-se despertar no educando o interesse pela Bíblia, o gosto pela oração, o amor aos mais sofridos, a visao crítica diante de uma sociedade que exalta a competitividade, vulgariza a violencia e, na sua impotência de amar, exibe o sexo como carne no açougue.
Todo ser humano tem fome de transcendência. Se não há resposta na família ou na escola, na igreja ou na sociedade, ele busca preencher o vazio na ostentação do que possui, no alcool ou na droga. Privado de uma formação religiosa que o torne amoroso e confiante, corre o risco de ser catequizado pelo consumismo, pelo hedonismo e pelos rambos exterminadores do passado, do presente e do futuro.
Os adultos, que antes de se perguntarem por que são tão diferentes os jovens de hoje, devem se indagar sobre o que fazem para fomá-los nos princípios da ética, nos valores morais e, no caso dos cristãos, na experiência de Deus. Na vida só se colhe o que planta. Pais que  não rezam com suas crianças, jamais leêm a Bílbia em família, não se interessam por celebrações e festas liturgicas, mais tarde não deveriam queixar-se da indiferença de seus filhos em relação a certos valores.
Para a escola cristã fica o desafio de evangelizar e tornar-se, ela própria,uma comunidade em que em tudo se respire a força e a beleza dos valores evangélicos.

domingo, 15 de abril de 2012

Quando crianças viram adolescentes

Por Adair Lara

Acabo de perceber que, enquanto crianças representam cães - leais e afetuosos -, adolescentes são gatos. É fácil ser dono de um cachorro. Você o alimenta, treina-o e manda nele. O cachorro apóia a cabeça em seu joelho e fica olhando como se você fosse um quadro de Rembrandt. Corre com entusiasmo quando chamado.
Por volta dos 13 anos, seu adorável cãozinho vira um grande gato velho. Quando chamado para entrar, ele parece surpreso, como se perguntasse quem morreu e nomeou você imperador. Em vez de acompanhar seus passos, ele desaparece. Você só o verá novamente quando ele estiver com fome. Nesse momento, interromperá a corrida através da cozinha durante tempo suficiente para farejar o que você está oferecendo. Quando estende a mão para acariciar-lhe a cabeça, naquele antigo gesto afetuoso, ele se afasta com um tranco e oferece um olhar gelado, como se estivesse tentando lembrar onde já o viu antes.
Você, sem perceber que o cachorro agora é um gato, pensa que algo deve estar desesperadamente errado com ele. Parece tão anti-social, tão distante, talvez deprimido. Recusa-se a comparecer às reuniões familiares.
Como foi você quem o criou, ensinou-o a buscar o graveto, ficar parado e sentar-se ao ouvir o comando, supõe que fez algo errado. Afogado em culpa e medo, redobra esforços para fazer seu bichinho se comportar.
Só que agora você está lidando com um gato e, portanto, tudo o que funcionava antes produz hoje o resultado oposto. Chame-o, e ele fugirá. Diga-lhe que fique sentado, e ele pulará para o balcão. Quanto mais se aproximar dele, torcendo as mãos, mais ele se afastará.
 
Em vez de continuar a agir como dono de um cachorro, você precisa apredner a se comportar como dono de um gato. Ponha o prato de comida próximo à porta e deixe que ele volte para você. Mas não se esqueça de que um gato também precisa de ajuda e afeição. Sente-se imóvel e ele virá, procurando o colo aquecido e confortável do qual não se esqueceu completamente. Esteja lá para abrir a porta.
Algum dia, seu filho crescido entrará na cozinha e lhe dará um beijão. Dirá: "Você ficou em pé o dia inteiro! Deixe-me lavar estes pratos." Você perceberá, então, que seu gato voltou a ser um cãozinho.
Reproduzido da Revista Reader's Digest Seleções Agosto de 1998
San Francisco Chronicle (28 de março de 1996)
Copyright 1996, San Francisco Chronicle, 901 Mission St., San Francisco, California. 94103