segunda-feira, 16 de abril de 2012

ESCOLA E EDUCAÇÃO CRISTÃ

Frei Beto – O Estado de São Paulo (10 de Setembro 1997).
Interessados na pastoral educacional, reuniram-se em São Paulo, em 30 de agosto, professores de dez colégios, os preferidos das elites paulistana e campineira.  São escolas que insistem em perder o pudor de se apresentar como cristãs. Muitas têm origem em congregações religiosas. No passado, padres e freiras cederam seu lugar a leigos, até mesmo no ensino religioso. E essa disciplina incluía educação moral e cívica, ética, etc…
É um contra-senso a escola católica não evangelizar alunos, professores e funcionários. Melhor depir-se de sua confecionalidade e assumir-se como mera empresa lucrativa. Os colégios que se reuniram em agosto não estão interessados numa catequese quantitative, do tipo encher bancos de igreja, nem em aulas de religião moralistas e doutrinárias, como havia no passado. Querem incutir em seus alunos os valores evangelisticos da promoção da vida, da solidariedade, da justiça, da partilha, do poder como serviço, etc.
Assim, a pastoral educacional inova nos métodos de evangelização e nos compromissos decorrentes da adesão a Jesus Cristo. Nas aulas de ensino Religioso, os alunos entram em contato com outras denominações religiosas, cristãs e não cristãs, incluindo tradições afro-brasileiras, que são parte de nossas raízes nacionais; participam de manhãs de formação e de retiros espirituais nos fins de semana. A formação do corpo docente é aprimorada com cursosde teologia pastoral e retiros. Investe-se também na atualização religiosa dos pais e na preparação para a crisma dos alunos.
A pastoral social abre uma variado leque de opções. Uma das escolas mobiliza alunos em trabalhos com cerca de 120 crianças de rua. Elas são alfabetizadas pelos estudantes e fazem cursos profissionalizantes (eletricistas, culinária, manicure, etc), ministrados por pais e professores. Em vistas a favelas, os alunos promovem recreação de crianças, teatro, oficina de trabalhos manuais, etc…
Para sensibilizar os jovens com os valores evangélicos ajudando-os a perder o ranço elitista, há escolas que mantém centros sociais em favelas, promovem cursos de artesanatos em cortiços, visitas à APAE e estágios dos alunos em assentamentos de sem-terra. Uma das escolas promoveu a viagem de formatura do 3.o colegial ao vale do Jequitinhonha, com a adesão voluntária de 60 alunos, que, durante um mês, se dedicaram a serviceo sociais naquela região paupérrima de Minas.
As gincanas têm caráter educativo, pois servem para coleta de roupas e alimentos para os pobres. Temas como sexualidade e drogas são debatidos abertamente. A campanha da fraternidade, da CNBB, entra na sala de aula e palestras atraem os alunos. Há um colégio que inclui em sua grade curricular o tema dos direitos humanos. Grêmios estudantis, como espaço de educação política, são reativados.
Nos tempos litúrgicos fortes, como semana Santa e Natal, certas escolas mobilizam a comunidade escolar, de modo a aprofundar o significado da Pascoa e trocar Papai Noel pelo menino Jesus. Procura-se despertar no educando o interesse pela Bíblia, o gosto pela oração, o amor aos mais sofridos, a visao crítica diante de uma sociedade que exalta a competitividade, vulgariza a violencia e, na sua impotência de amar, exibe o sexo como carne no açougue.
Todo ser humano tem fome de transcendência. Se não há resposta na família ou na escola, na igreja ou na sociedade, ele busca preencher o vazio na ostentação do que possui, no alcool ou na droga. Privado de uma formação religiosa que o torne amoroso e confiante, corre o risco de ser catequizado pelo consumismo, pelo hedonismo e pelos rambos exterminadores do passado, do presente e do futuro.
Os adultos, que antes de se perguntarem por que são tão diferentes os jovens de hoje, devem se indagar sobre o que fazem para fomá-los nos princípios da ética, nos valores morais e, no caso dos cristãos, na experiência de Deus. Na vida só se colhe o que planta. Pais que  não rezam com suas crianças, jamais leêm a Bílbia em família, não se interessam por celebrações e festas liturgicas, mais tarde não deveriam queixar-se da indiferença de seus filhos em relação a certos valores.
Para a escola cristã fica o desafio de evangelizar e tornar-se, ela própria,uma comunidade em que em tudo se respire a força e a beleza dos valores evangélicos.

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